O ar no dojo principal do Clã Hyuuga estava pesado e imóvel, carregado com a tensão de um julgamento silencioso. Do lado de fora, o sol da manhã banhava Konohagakure em uma luz dourada, mas aqui dentro, as sombras pareciam se agarrar aos cantos, alongando as figuras dos anciãos do clã sentados em uma fileira austera. Eu estava de joelhos no centro do piso de madeira polida, com a cabeça baixa, mas meus punhos cerrados em minhas coxas traíam a calma que eu tentava projetar.
"Kaito," a voz do ancião chefe, um homem cujo rosto era um mapa de rugas e desdém, cortou o silêncio. "Você atingiu a idade em que um herdeiro de nossa nobre linhagem deveria não apenas ter despertado o Byakugan, mas também demonstrar maestria nos fundamentos do Punho Gentil. No entanto, seus olhos permanecem... comuns." A palavra "comuns" foi dita como se fosse uma praga.
Levantei meu olhar para encarar meu pai, que estava de pé ao lado dos anciãos. Sua expressão era uma máscara de fria decepção, um olhar que eu conhecia muito bem. Por anos, eu havia suportado seu desapontamento, sua frustração por eu ser uma anomalia, uma falha na linhagem pura dos Hyuuga. Eu havia treinado incansavelmente, empurrando meu corpo e meu espírito ao limite, golpeando postes de treinamento até meus nós dos dedos sangrarem e meditando por horas a fio, tentando forçar o despertar do kekkei genkai que era meu por direito de nascença. Mas nada. O poder do Byakugan permanecia adormecido dentro de mim, trancado e inacessível.
"Eu me esforcei mais do que todos," minha voz saiu rouca, uma mistura de desafio e desespero. "Eu dediquei cada momento de minha vida ao treinamento."
"O esforço não pode criar o que não existe," meu pai respondeu, suas palavras tão afiadas quanto uma kunai. "Você é uma vergonha para este clã. Uma mancha em nosso nome."
Cada palavra era um golpe no meu peito. A dor da rejeição de meu próprio pai era mais aguda do que qualquer ferimento físico que eu já havia sofrido. Os outros membros da família presentes no dojo desviavam o olhar, alguns com um pingo de pena, outros com um desprezo mal disfarçado. Eles me viam como eu era: um galho que se recusava a florescer na grande árvore genealógica dos Hyuuga.
O ancião fez um sinal, e meu primo, um jovem prodígio que já dominava várias técnicas avançadas do Punho Gentil, entrou no dojo. "Seu teste final, Kaito. Se você conseguir acertar um único golpe nele, talvez sua presença nesta família ainda possa ser tolerada. Se falhar, você será expulso."
O combate foi breve e humilhante. Com seu Byakugan ativado, meu primo via cada movimento meu antes mesmo que eu o fizesse. Ele se esquivou de meus ataques desesperados com uma graça insultuosa, seus olhos perolados me analisando com uma precisão clínica. Eu era um livro aberto para ele, e cada página estava cheia de fracasso. Em um movimento rápido e fluido, ele me atingiu com um golpe de dois dedos no peito, bloqueando meu fluxo de chakra e me enviando de joelhos, ofegante.
A derrota foi absoluta. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
"Está decidido," declarou o ancião, sua voz ressoando com finalidade. "Kaito, você está banido do Clã Hyuuga. Seu nome será removido de nossos registros. Você não é mais um de nós. Deixe este complexo agora e nunca mais volte."
Levantei-me com a pouca dignidade que me restava. Não implorei nem chorei. Olhei para o rosto de meu pai uma última vez, esperando ver um lampejo de dúvida, de remorso. Não havia nenhum. Apenas o vazio gelado da aceitação. Virei as costas para a única casa que eu conhecia, para a família que me havia rejeitado, e saí para a luz do sol de Konoha, um exilado.
Enquanto eu caminhava pelas ruas da vila, o peso do meu novo status de pária se assentou sobre mim. Eu não tinha para onde ir, ninguém a quem recorrer. A dor da rejeição queimava em meu peito, mas por baixo dela, uma nova sensação começou a surgir. Era uma brasa incandescente de fúria e determinação. Eles me julgaram indigno por causa do poder que me faltava. Então eu adquiriria todo o poder que pudesse.
Minha jornada começou nas sombras de Konoha. Eu me tornei um fantasma, observando outros ninjas, estudando seus movimentos, suas técnicas, seus selos de mão. Eu lia pergaminhos roubados à luz de velas em esconderijos abandonados, absorvendo conhecimento como uma esponja. Minha falta de um kekkei genkai me forçou a ser mais esperto, mais versátil. Eu não podia contar com um dom inato, então eu teria que dominar todos os outros.
Minha primeira descoberta foi o senjutsu. Eu viajei para o Monte Myoboku, o lar dos sapos sábios. Eles inicialmente me rejeitaram, sentindo a turbulência em meu coração. Mas minha determinação inabalável os convenceu. Eu passei por um treinamento infernal, aprendendo a sentir e a reunir a energia da natureza. Foi uma luta árdua, meu corpo quase se transformou em pedra inúmeras vezes. Mas eu perseverei, e finalmente, eu dominei o Modo Sábio dos Sapos. Pela primeira vez, eu senti o que era ter um poder verdadeiro fluindo através de mim, uma força que não vinha do meu sangue, mas do próprio mundo.
Meu caminho então me levou à Caverna Ryūchi, onde aprendi o Modo Sábio das Cobras com o Sábio da Cobra Branca. Foi uma experiência diferente, mais perigosa e sedutora. O poder que adquiri lá era mais selvagem, mais instintivo. Eu aprendi a combinar a calma e a percepção do senjutsu dos sapos com a ferocidade e a adaptabilidade do senjutsu das cobras, criando um equilíbrio único.
Mas eu sabia que precisava de mais. Eu queria o poder que me foi negado, o poder de um dōjutsu. Minha busca me levou a lugares onde poucos ousariam ir, em busca de vestígios do Clã Uchiha. Em um antigo campo de batalha, em meio a ruínas esquecidas, eu encontrei um Uchiha moribundo, um sobrevivente esquecido de uma era passada. Em seus momentos finais, vendo a chama inextinguível em meus olhos, ele me confiou seu legado: seu Sharingan. A cirurgia de transplante foi crua e arriscada, realizada por mim mesmo com o conhecimento que adquiri. A dor foi excruciante, mas quando abri os olhos, o mundo estava diferente. Eu podia ver o fluxo de chakra, os movimentos mais sutis, o próprio tecido do ninjutsu.
Com o Sharingan, meu progresso acelerou exponencialmente. Copiei inúmeros jutsus, de todos os cinco elementos da natureza. Desenvolvi meu próprio taijutsu, uma fusão do Punho Gentil que eu lembrava com a força bruta que eu havia adquirido. Eu não estava mais imitando os Hyuuga; eu estava os superando.
Minha jornada me levou a descobrir lendas sobre um poder ainda maior, uma evolução do Byakugan conhecida como Tenseigan, dito ser capaz de mover a lua e trazer a reencarnação. A lenda dizia que ele só poderia ser despertado combinando o chakra dos descendentes de Hamura Ōtsutsuki – os Hyuuga – com o poder dos Ōtsutsuki. Embora eu tivesse sido expulso, o sangue Hyuuga ainda corria em minhas veias.
Foi então que meu caminho se cruzou com o das Bestas com Caudas. Eu não as via como meras fontes de chakra, como a maioria dos ninjas. Eu as via como seres sencientes, aprisionados e incompreendidos. Usando meu Modo Sábio para me conectar com elas e meu Sharingan para entender sua dor, eu ganhei sua confiança. Eu não me tornei seu jinchūriki no sentido tradicional; eu me tornei seu parceiro. Eles me emprestaram seus vastos reservatórios de chakra, e eu lhes ofereci um propósito, uma chance de coexistir em harmonia.
A fusão do chakra das Bestas com Caudas com meu senjutsu e meu sangue Hyuuga desencadeou uma transformação milagrosa. Uma dor lancinante tomou conta de meus olhos transplantados. O Sharingan girou e se transformou, as tomoe se unindo e se expandindo em um padrão floral azul-celeste. Quando a dor diminuiu, eu olhei para meu reflexo em uma poça de água. Meus olhos não eram mais vermelhos, nem brancos. Eles eram de um azul luminoso e pulsante. Eu havia despertado o Tenseigan.
Com esse novo poder, eu me tornei algo que o mundo nunca tinha visto antes. Eu não era um Hyuuga, nem um Uchiha, nem um jinchūriki. Eu era uma síntese de todos eles, e algo mais. Eu era o primeiro Tenseikage, um guardião do equilíbrio, cujo poder rivalizava com o dos próprios deuses. Minha jornada, nascida da rejeição, me levou a um poder que meus antigos parentes não podiam sequer imaginar. E eu sabia que era apenas o começo. O mundo ninja conheceria um novo tipo de poder, e um novo tipo de Kage.
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